Entrevista | O engenheiro de áudio Marcos Abreu fala sobre as masters do NRC

Marcos Abreu é engenheiro de áudio e acústica, com mais de 30 anos de carreira. O cara trabalhou com a masterização de obras de Vitor RamilJosé Miguel WisnikNei LisboaCachorro GrandeFresno Renato Borghetti, entre muitos outros (são mais de seis mil discos com sua assinatura), passando por gravadoras como SonyEMI Warner, no Brasil e no exterior, em países como Argentina e Estados Unidos. Na área de acústica e sonorização, Marcos trabalhou em projetos como os da Sala de Recitais da OSPA, o Teatro Unisinos e os estúdios da Casa de Cinema de Porto Alegre.



Aqui, no NOIZE Record Club, temos a honra de contar com os conhecimentos de um dos maiores especialistas brasileiros em masterização. O Marcos nos auxilia a melhorarmos constantemente a qualidade sonora dos discos. Inclusive, de uns tempos pra cá, em boa parte dos lançamentos, ele também coloca a mão na massa. Ou melhor, coloca a mão na master. 

Nós trocamos uma ideia com ele sobre questões básicas do mundo do vinil, para começar a introduzir você, que está lendo este texto, ao assunto, através do olhar de quem conhece mesmo o tema. Também pedimos para que o Marcos contasse alguns “causos” dos bastidores da produção dos discos do NRC, para que você conheça um pouco mais do nosso processo.



Marcos, vamos começar pelo começo: o que é masterização?

Essa é a pergunta de ouro [risos]! Masterização é o processo de polimento final do disco mixado. Ou então, o processo de ajustar melhor o conteúdo sonoro ao meio a que ele se destina. Quer dizer, se eu vou fazer uma master para CD, eu vou ajustar o som da melhor forma para CD. Se eu vou fazer uma master para vinil, vou ajustar da melhor forma para vinil. Se for cassete, vale o mesmo. Ou seja, a master é o processo de ajuste para conseguir o melhor som em um meio específico.


Então, é uma master para cada lugar que o mesmo som tocar?

Sim, uma master pra cada coisa. Idealmente, devem ser sempre masters diferentes. Não é a mesma master que eu posso usar pra três coisas diferentes. É necessário o processo de finalização do som mixado para o meio ao qual ele se destina. 


E a importância disso…

A importância é ter o melhor resultado sonoro naquele meio. Se eu tenho a master certa para o vinil, vou obter o melhor som do vinil. É assim com o CD, com o cassete, com o filme, com o cinema, com a novela. Então, tudo isso implica em ter uma master final, um ajuste final, em que são regulados os volumes, as equalizações, a compressão do disco para aquele meio específico. Uma master de CD normalmente não serve para o vinil.



Com qual master da NOIZE você mais gostou de trabalhar? Por quê?

Essa é difícil [risos]! Acho que o Tim Maia foi uma master legal de fazer. A Elza Soares também foi. São discos históricos que saíram. E eu gosto muito de trabalhar com esse lance histórico, de restauração. Já fiz muita restauração de disco, então eu gosto muito desses relançamentos. O disco do Marku, eu copiei o vinil original, restaurei, limpei ele todo e fiz uma nova master. Eu digitalizo e depois altero no software. 


E qual foi a master mais inusitada pra você?

Talvez o Don L. Era um disco enorme e eu gostei muito de fazer. Rap não é o estilo que eu estou acostumado a trabalhar. E o disco é muito bom. Foi o elemento surpresa, por isso que eu gostei. Também teve Liniker, Marina Sena. 


E que dica você daria para quem quer se aprofundar no mundo do vinil?

Se o cara quer se aprofundar no mundo do vinil… que comece por investir em um bom toca-discos. Um bom resultado sonoro é diretamente proporcional à qualidade do toca-discos. Quanto melhor for seu toca-discos, melhor vai ser a reprodução. Porque é um processo mecânico. Quanto melhor for o braço, a cápsula, a rotação mais estável, etc., tudo isso vai ajudar a melhorar o resultado final. Então, se for para fazer investimento em alguma coisa, que seja em um toca-discos melhor.


O som analógico só é melhor se temos um bom equipamento?

Sim, só assim. Uma vez escutei uma explicação bem interessante. O cara disse que a qualidade do CD é a praticidade. Se tu bota um CD em qualquer aparelho, tu tem mais ou menos a mesma qualidade de som em todos eles, sem muitas variações. No carro, no aparelho portátil, em casa, o som é sempre aquilo. O vinil não. No vinil, a agulha vai dar um som, o braço vai dar um som, o pré [pré-amplificador] dá um som, o amplificador dá um som. Então, assim, cada elemento vai te dar um resultado diferente. Com peças melhores, o som é melhor. O conselho é esse: invista em um toca-discos bom.


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